1º Contingente 3

 BATALHÃO SUEZ - 1º CONTINGENTE 


DEPOIMENTO DO GEN. IRACÍLIO. 

A VIAGEM 

        No dia, das emoções da partida para o Egito, e após as tantas solenidades, era normal que o navio transporte de tropas da Marinha de Guerra do Brasil – o Custódio de Melo – recebesse as autoridades nacionais, e comandantes militares, jornalistas, familiares dos militares que iriam deixar o país para uma missão totalmente desconhecida, e assim uma fraterna despedida e ultimas considerações, mantinham essas visitas no convés, e ninguém se importava com a quebra de protocolo.   Com a presença das visitas ao navio, até cinco minutos antes da partida, das autoridades, de todos os Generais em serviço no Rio de Janeiro, inclusive a do Ministro Henrique Lott e a do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, o Custódio de Melo estava pronto para zarpar e, levantou âncora às 23:50 horas do dia 11 de janeiro de 1957, primeiramente com destino a Las Palmas, no arquipélago das Canárias, onde chegou dia 23, com 11,5 dias de viagem em mar. Partiu de Las Palmas dia 25 de janeiro, às 06:38 horas, com destino a Port Saíd, no Egito. 

        Uma surpresa nos aguardava, mal alcançamos mar alto. Ao acordar, tive uma notícia atípica e interessante: havia um clandestino a bordo, cabo do Exército, o que desmentia o medo das deserções. . . (n.b. o Gen. Iracílio não menciona o nome desse Clandestino, e acredito que ninguém sabe quem era.)  

        No trecho próximo ao final da viagem, duas ocorrências gravíssimas: no Mar Mediterrâneo, o Custódio de Melo enfrentou terrível furacão, que o obrigou a apagar seus fogos e motores, e ficar à deriva por cerca de 70 horas, pois a carga de gasolina e óleo diesel, que fora acondicionada em tambores, amarrada no convés superior, junto à proa, desprendeu-se e inundou o barco de combustível; quem puder imagine o quadro de pré-tragédia e angustia.  

        Ao mesmo tempo, na Enfermaria de bordo, o soldado João Antônio João, que fazia parte do efetivo da tropa, apresentava um quadro clínico com terrível infecção na garganta, sofria e viria a morrer, atendido por 4 médicos que estavam a bordo e dispondo da mais moderna medicação.   

        O organismo desse pobre moço não resistiu à infecção, imediatamente procurei o Comandante Toscano e ele deixou a mim a decisão de sepulta-lo no mar ou leva-lo a terra e enviar seu corpo para o Brasil.  

        Ponderei sobre o assunto com o Major Boldstein, então subcomandante do Btl. Suez, e decidi sepulta-lo no Mar Mediterrâneo, já que era impossível mante-lo a bordo até o regresso do barco ao Rio de Janeiro, e desembarcar a tropa com um cadáver, seria uma temeridade, capaz de obrigar-nos a uma quarentena ou coisa parecida.  

        A cerimônia militar do sepultamento do nosso soldado no Mar Mediterrâneo, assistida pela tropa do Exército e da Marinha, foi dos mais emocionantes episódios que me foi dado a assistir, com o navio parado e as honras militares, depois da cerimônia religiosa. 

        No dia 04 de fevereiro de 1957, depois de 21 dias de mar e 6.136 milhas navegadas, o navio recebeu a visita, a bordo do Tem.Gen. Edson Louis Burns, Comandante da UNEF (Força de Emergência das Nações Unidas), a qual íamos nos integrar. 

        O Batalhão Suez desembarcou em Port Saíd, no Egito, e aí foi surpreendido agradavelmente, com a oferta de linda Bandeira da ONU. 

        Em nome da Marinha de Guerra do Brasil, o Comandante Toscano, momentos antes de partirmos do Rio de Janeiro, ouvira a tardia resposta que me dava o alto Comando e Chefe, a quem eu indagara se deveria usar aquela Bandeira, e mandou que o alfaiate de bordo a confeccionasse. A despedida em terra, dos bravos marinheiros do Custódio de Melo, deixou a todos comovidos. 
    
NO EGITO 

        Depois de apresentada a tropa ao Comandante da UNEF, General canadense L.M. BURNS, que a passou em revista e a declarou integrada àquela Força Internacional. Viaturas brasileiras e canadenses transportaram o Batalhão Suez para a localidade de El Ballah, onde chegamos às 11:00 horas, daí, em marcha, seguimos para El Kantara, acantonamento muito castigado pela guerra e que procuramos arrumar um pouco, até que nos foi determinado que, via El Arish, seguíssemos para Rafah Camp, antigo aquartelamento Inglês, dispondo de depósitos vastos, e servidos por linha férrea. Nossa tropa marchou junto aos israelenses que se retiravam do território egípcio. 

        O Brasil foi a primeira tropa da ONU a entrar em GAZA e chegar à fronteira de Israel. Esse deslocamento, que fizemos com um pequeno destacamento e recomendação de seguir rigorosamente as trilhas dos israelenses, fugindo assim dos campos minados. Foi muito penoso, pois a Rodovia do Norte fora inteiramente destruída, o que nos obrigava ao deslocamento na areia e sobre algumas pedras soltas. Nossos caminhões e jeeps, todos nacionais, iam e vinham no deslocamento, num total de cerca de 400 Km. 

        Nesse período, dois acontecimentos importantes: 

1º - houvera ordem terminante de que nenhum soldado se ausentasse do acantonamento de El Kantara, mas eu e o Major Boldstein, indo de ônibus a Port Saíd, para reconhecimento da região em que estávamos, vimos um homem fardado à brasileira. De regresso a El Kantara, determinei que uma patrulha fosse buscar o tal homem, era um “ habib “ habitante local, que roubara os uniformes e os vestira.Despido daquilo que não lhe pertencia, foi apresentado, por escrito a Polícia da UNEF, que era canadense. Na manhã seguinte, uma mulher chorava em altos brados, junto ao portão da guarda, até que mandei o nativo Mohamed, que contratei para prestar serviços civis, para saber o que aquela mulher queria, ela queria que eu a indenizasse por ter mandado matar-lhe o seu marido. Para não me alongar, o tal homem fora entregue a Polícia Egípcia, que o teria executado. 

        Desse fato resultou minha decisão de comando: nunca mais, no meu Comando, entregaríamos à Polícia local aqueles que prendêssemos, a não ser que se tratasse de crime grave. 

2º - foi o fato de eu ter assumido, por quatro dias, o Comando de um destacamento da Força que, além de brasileiros, tinha canadenses, colombianos, suecos, finlandeses, indianos, e indonésios, todas forças regulares da UNEF. 

        Em El Arish, com meu Posto de Comando em meio a uma grande plantação de tâmaras, em franca produção. As demonstrações de apreço, então recebidas, não as esquecerei jamais. 

        Chegando a Rafah, o Batalhão Suez recebeu do Batalhão Sueco o aquartelamento que ficava fronteiro aos depósitos da UNEF, não podiam estar piores as instalações que nos foram entregues pelos suecos, pois não funcionava o sistema de luz, de água, e de esgoto, e os pequenos edifícios e alojamentos estavam muitos danificados, apenas a cerca de arame fora consertada. 

        Ficando para nós refazer a cerca de arame da área dos depósitos, mais ou menos uma área como a Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, e as diversas instalações. 

        Começamos acampando e mandando esvaziar grande fossa ao ar livre, em que se juntavam as fezes e que era, além de foco aberto, coberto por milhões de moscas e insetos, de um fedor insuportável para o nariz do brasileiro. 

Alguns agricultores das imediações esvaziaram e limparam a área dessa fossa, em pouco tempo. E nesse local construiu-se várias fossas enterradas e ligadas aos pequenos edifícios do acantonamento. 

        Logo aprendemos que nada de que se dispusesse, poderia ficar exposto, pois seria roubado durante a noite. Materiais de construção, fios e outros materiais elétricos, canos torneiras, tudo tinham que ser comprado pela manhã e usado no mesmo dia, ou guardado nas edificações. 

        Comunicações telefônicas, com fios expostos nem pensar, pois toda fiação teria desaparecido ao amanhecer. As áreas abertas, definidas por cerca de arame, exigiam continuada vigilância no calor exagerado do dia e no frio exagerado da noite. 

        As ventanias freqüentes punham abaixo nossas barracas de lona, muito frágeis para aquelas condições e só mais tarde substituídas por barracas indianas, realmente mais resistentes. 

        Tão logo chegamos a Rafah, nossa tropa teve a missão de vigiar e defender Rafah Camp e ainda guarnecer duas partes da ADL ( Armistice Demarcation Line) ou LDA – Linha de Demarcação do Armistício, que nada mais era do que a fronteira física entre o Egito e Israel, convindo frisar duas obrigações complementares: a de impedir a entrada de árabes em Rafah Camp (que passou a ser o acantonamento central dos brasileiros), e a de manter abertas as valas (LDA) na areia, que definiam os limites de Israel e Egito. Foi então que verificamos como era inadequado, para a nossa missão, o nosso quadro de efetivo de pessoal, que um ano mais tarde receberia o reforço de mais 100 soldados, (2º Contingente), a pedido do Comando da UNEF, sob o pretexto de que os Batalhões da Colômbia e da Indonésia estavam se retirando da missão, e caberia aos brasileiros guarnecer mais essas duas áreas. 

        Com o efetivo renovado e adequado, ficou menos penoso o cumprimento da missão dos nossos soldados. 

        Ao dar inicio a missão, a mais difícil das tarefas inicias que iríamos cumprir, foi sem dúvidas o levantamento e desarmamento das minas de guerra existentes em toda a região do conflito, pois as metálicas já estavam abandonadas, bem como as demais, deixadas nos campos pelos contendores, sem qualquer informação registrada, e que não eram detectadas pela aparelhagem antiminas. 

        O nosso Batalhão levantou 864 minas diversas, tendo eu enviado ao Brasil muitas dessas coleções, devidamente identificadas. 

        Em volta da cerca de Rafah Camp era minada e por aí foi começado o levantamento, pois não foram poucos os seres humanos, nativos da região, e os animais – camelos, cães, burricos, - que ali se feriram gravemente e que ali morreram. Eventualmente um ou outro civil nativo também sofreram acidentes no decorrer do tempo. A invasão e furtos, nas áreas de depósito e de acantonamento era freqüente e perturbadora, principalmente verificada ao raiar do dia, a neblina noturna umedecia a rala erva rasteira do areal desértico e aos refugiados que moravam nas tocas de areia bem como seus animais que saiam a pastar essa grama antes que o calor a tornasse mais dura. Dentro das cercas, do lado do acantonamento, havia mais pasto e aquela pobre gente queria apanhá-lo e era espantada com tiros de festim, mas em pouco tempo e vendo que os tiros eram apenas para amedronta-los, e não para atingi-los, forçavam entrar e servir-se daquele alimento exigiram muito trabalho para conte-los. 

        Ofereci um almoço ao General Chefe do Estado –Maior Egípcio de ligação com a UNEF e, então, pedi-lhe ajuda da Polícia Egípcia, que pôr fora das cercas e com seus chicotes, afastaria aquela gente, e a ele contei o que acontecia. Mas ele me disse que minha gente estava em erro, pois devia atirar para matar, - disse-lhe eu que nossa tropa era hóspede do Egito e que não estávamos lá para matar egípcios. A resposta dele foi curta e esclarecedora, - mas pode matar, que são refugiados da guerra, não são egípcios. Evidente que não os matamos

        Minhas lembranças não cabem em uma revista, mas quero apenas lembrar coisas importantes. 

        A acolhida amiga e até festiva, dos egípcios, cuja história maravilhosa é uma lição para toda a humanidade, pois ensina que mesmo a grandeza desmedida termina um dia, e seu povo pobre e maltratado, orgulhoso do seu passado, busca seguir muito mais o Alcorão do que determinam seus governantes, e, como árabes e muçulmanos, vêm nos infiéis inimigos em potencial.

        O convívio com representações de vários exércitos – 11, contando o nosso e o egípcio – completamente diferentes uns dos outros, apesar do espírito militar que a todos assemelha, foi lição e enriquecimento espiritual inesquecível, pelos métodos e manifestações de disciplina e de democracia, pela maneira de demonstrar o seu valor e os hábitos ou costumes de seus povos, pelo acentuado orgulho e vaidade com que cada um de seus elementos, encara a grandeza de seu país. Nosso Brasil é deles desconhecido, a ponto de um oficial sueco – portanto aparentemente um povo culto, ter-me perguntado se o Rio de Janeiro parecia com Gaza! Os cinco soldados mortos e recambiados para a Pátria, contrariando a instrução verbal de um Chefe que me determinara que os enterrasse “lá mesmo”, como foram penosas essas perdas de gente moça e entusiasta, que lá estava para ajudar a impor a Paz no mundo, a todos eles, repito, a minha continência de despedidas, ofereço minhas orações. A vivência em uma Unidade Internacional, por longos meses, sem qualquer regulamento, cumprindo missões difíceis e perigosas, num papel de “deixa disso” entre nações muito bem armadas, quando mal dispúnhamos do indispensável para nos defender. Quando os americanos desembarcaram em Beirute – Líbano, fizemos longas e profundas escavações, à maneira de trincheiras, com duas bermas, para nela marcarmos, pela reação moral, a violação do contendor que ofendesse a ONU, compreendemos como foi difícil e penosa a espera de um pior possível, que não aconteceu. Os problemas morais, de uma coletividade de 650 homens, componentes do efetivo brasileiros, válidos, confinados como que num campo de presos, saudosos de suas famílias, cada qual reagindo a seu modo e iniciativa, com o gravíssimo problema sexual, num país em que a prostituição da mulher muçulmana é um crime hediondo, e em que são sem número as moléstias endêmicas, grande parte dos elementos que baixavam a enfermaria, era de homens desesperados ou angustiados, apesar da ajuda excelente dos capelães militares, foram superados esse problemas. 
   
COMUNICAÇÃO 

        O serviço inestimável de rádio da nossa PTA. 2, nossa estação RAD.400, que dirigida pelo Maj. Inf. Wilson da Silveira Brito (e mais tarde por seu irmão, o Maj. Art. Natalino da Silveira Brito), conseguiu a ligação diária para o QG do nosso Exército no Rio de Janeiro (a 16.000 Km), em grafia e em fonia, de que toda a tropa se beneficiava, foi uma grande ajuda, graças à retransmissão para as capitais estaduais. Quanta dedicação, que nunca pagaremos, às equipes da PTA. 2. 

        Os vôos da Saudades, com que brindava a nossa FAB a cada três semanas, levando e trazendo pequenas lembranças e até guloseimas dos familiares e que, era de ver-se, os jovens militares europeus que queriam conhecer as famosas “Fortalezas Voadoras” que faziam tais vôos e eram lembranças de ações heróicas da Segunda Guerra Mundial ... que bravos esses moços da FAB que partindo de Recife, viajavam (saltavam) para a Europa, em tais relíquias . Nosso serviço de transporte e de manutenção de veículos automóveis, duas vezes considerado, em Boletim da UNEF, “indiscutivelmente o melhor da Força”, contando com 41 viaturas, das quais só 4 não eram nacionais. Nosso serviço de saúde, nele incluindo o serviço odontológico, que foi sempre excelentemente bem dotado de medicamentos e de profissionais capazes, a ponto de eu poder, após visita a um Hospital de Campanha Egípcio, em que vi quadros dantescos de dor e sofrimento, pude oferecer 15.000 doses de estreptomicina.... atendíamos à população de Rafah, especialmente ao mundo de meninos infectados nas circunstancias a que eram submetidos. Contrariávamos recomendações superiores, não sei quantos oficiais e praças das unidades da UNEF e até civis do QG de Gaza tiveram nosso apoio em tratamento dentário, sobretudo em dentaduras que eram feitas por protéticos do Rio de Janeiro, conforme moldes enviados –via FAB – do Batalhão. O sucesso de uma das nossas Companhias, destacada para ocupar as elevações no Golfo de Akaba, região montanhosa e de pedras, ao Norte do Mar Vermelho, em que nossa gente recebeu elogios excepcionais, suportando vida penosíssima com bravura e muito brio, tendo por única alegria a ligação por fonia para o Rio de Janeiro, graças a PTA. 2, usando a RAD. 200 de que dispúnhamos. 

        As competições esportivas com os demais Batalhões da UNEF, em que nos empenhávamos pra valer, sem qualquer privilégio para os atletas, ao contrário daquilo que ocorria com os demais, principalmente o Batalhão Iugoslavo, que dispunha de sub-unidade de atletas, só para isso, na UNEF, ganhavam quase tudo e eram os preferidos dos ativistas de esquerda, que nos atacavam e ofendiam com palavras e até com pedras, causando-nos mais baixas do que as do esporte. 

        Lembro, numa manhã em que uma multidão, com cartazes e muita algazarra, imprecava contra os brasileiros porque, diziam eles, havíamos ultrajado o Islamismo, ocupando uma mesquita. Compreendi a gravidade do fato e em pouco conheci a realidade, pois uma patrulha nossa acomodara-se, à noite, no que julgara ser um casebre abandonado, e não era. Espontaneamente procurei autoridade militar de Rafah, expus-lhe o que ocorrera e pedi desculpas, em nome do Batalhão, o que foi aceito, tendo a polícia local dissolvido a manifestação, daí em diante, todas as casas abandonadas foram respeitadas por nós, pois nada é mais importante, no Oriente Médio, do que a religião muçulmana. 

        Assisti, de longe, em Rafah a votação para a criação da RAU - República Árabe Unida, na hora marcada, a praça principal daquela multimilinar cidade em que Sansão viveu e foi sepultado, depois de uma arenga, todos ergueram o braço e o Presidente Gamal Abdel Nasser venceu por unanimidade, como venceria, à mesma hora, no Iêmen, e na Síria, que abdicavam de suas soberanias e se tornavam províncias egípcias. 

        O pertinaz combate às moscas, folclóricas e milenares, em quantidades incríveis, num mundo em que no passado matou a vegetação e hoje não tem quem combata esses e outros insetos, os quais fazem endêmicos, o tracoma, era uma grande apreensão de nossa parte. 

        A ocupação com nossa luta diária tentando a prevenção, tanto em nossos elementos do QG em Rafah Camp, quanto na Linha de Frente na ADL, combatendo e lutando contra todas as doenças comuns na região, obrigava a ingestão diária de doses de quinino e o uso, também diário, de preventivo e orientação contra o tracoma. Até deixar o Comando, nunca houve um caso de doença endêmica em nossa unidade. 

        O respeito enorme dos muçulmanos durante o período do Ramadam o qual dura cerca de 40 dias, eles ficam em jejum, não comem nem bebem durante o dia, fazendo-o só durante duas horas pela manhã. É um período em que emagrecem. Nas cidades maiores, as pessoas de maior poder aquisitivo, mudam-se para casas que têm nos cemitérios.

A PÁTRIA NÃO NOS DEVE NEM MESMO GRATIDÃO 

        A minha decisão de criar um lema para o Batalhão Suez, que integrava o Boletim Diário, ficou registrada na mais visível das paradas externas e, sem que isso modificasse minha decisão, me foi informado que não constituía norma regulamentar, mas quem esteve no Batalhão Suez, naquele tempo, sabe que marcaram fundo a minha sensibilidade, as homenagens que recebi no QG, quando deles fui despedir-me e bem assim a passagem do Comando, em 14 de setembro de 1958, e a despedida do 1º Contingente, que comandei no retorno ao Brasil, em 20 de outubro de 1958, já no Quartel do 2º RI. 
   
A VIAGEM DE REGRESSO AO BRASIL 

        A 14 de setembro de 1958 por via férrea, bem próximo aos fundos do QG, em Rafah Camp, chegava o 3º Contingente, e nesse mesmo dia realizou-se a troca de comando, e o inicio do nosso retorno ao Brasil. 

        Embarcamos no trem e por essa via férrea, chagamos em Port Said por volta das 04.30 horas do dia 15, e por volta das 05.30 horas, embarcamos no Navio-Transporte de Tropas – Barroso Pereira, da Marinha de Guerra do Brasil, comandado pelo CMG Ângelo Nolasco de Almeida. A viagem marítima teve inicio às 17:45 horas do dia 16 de setembro de 1958, com escalas em Marselha – França de 22 a 24 de setembro, dali para Las Palmas, de 29 setembro a 02 de outubro, em seguida em Dacar onde estivemos de 05 a 07 de outubro, dali para Recife, onde chegamos a 13 de outubro. Houve desembarque da maior parte do Contingente que regressava sob o meu Comando, o que ocorreu depois da visita do Governador de Pernambuco e também dos Comandantes do IV Exército e da 7º RM, bem como de várias outras autoridades, civis, militares e eclesiásticas. No dia 16 de outubro, todos a bordo, desatracamos com destino ao Rio de Janeiro, onde finalmente aportamos e desembarcamos no Píer da Praça Mauá às 10:00 horas do dia 20 de outubro de 1958, onde recebemos as boas vindas das autoridades e o carinho dos familiares, a ordem de embarque em comboio militar que, passando sob aplausos pelo centro da cidade, dirigiu-se à Vila Militar-Deodoro, onde me despedi do 1º Contingente, lendo a Ordem do Dia, e o apresentei ao Comando do 2º RI, Cel. Floriano Machado. Com esse ritual deixei de integrar o Batalhão Suez. 

        Trinta anos mais tarde, quando outras UNEF’s, ou outras Forças de Paz da ONU, já tinham atuado em tantas outras partes deste mundo gritando pela PAZ e em nome da ONU, adveio um prêmio sem paralelo, que muito orgulha intimamente cada um dos Boinas Azuis, daqui do Brasil e de outras pátrias.   O Comitê Nobel em Oslo, em fins de setembro de 1988, resolve conceder às Forças de Paz da ONU o Prêmio Nobel da Paz, extensivo a todos os elementos, civis e militares, que participaram de missões de paz em todo mundo até aquela data. 

        Como é bom a gente saber que a missão que cumprimos foi considerada e reconhecida internacionalmente de grande importância e merecedora de tão belo galardão. Os paranaenses, num exemplo notável, já ergueram em Curitiba, grande e significativo Monumento aos seus Boinas Azuis. 

        Difícil enumerar tantas e todas as lembranças de 2 anos de Oriente Médio, que são parte de um passado de mais de 32 anos atrás, mas que são as mais queridas justamente aquelas que me falam dos integrantes do Batalhão Suez, a quem fiquei ligado por estima muito grande, gerada pelo respeito mútuo, pelo brio, coragem e desambição com que eles demonstraram amor à Paz e ao Brasil, num dia-a-dia que continua. 

        Mais que a quaisquer outros, é a eles e a Deus a quem mais tenho que agradecer. 
Iracilio Ivo Figueiredo Pessoa - Gen. Div. Ref. 


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