UM
TRISTE POEMA
DA GUERRA
Edison Iabel
Anoitece... a
sombra da morte estende seu manto negro sobre Gaza;
As Estrelas - antes tão abundantes - e a Lua, migraram para outras
plagas; esta noite iluminam outros céus.
Balas silvam sobre nossas cabeças; nos entreolhamos angustiados; entre
nós reina um silencio pesado; não se ouve absolutamente nada, além do
búum, búum metálico dos morteiros, caindo à curta distancia, sacudindo o
chão e desmoronando nossas trincheiras. Um barulho amedrontador, rude
som sem harmonia.
Amanhece... uma alvorada cinza aos poucos engole a escuridão; o orvalho
transforma-se em lágrimas, antes de tocar o solo...
Lentamente saímos de nossas trincheiras e olhamos desolados em direção à
praia; lugar que costumávamos a admirar... o azul do mar hoje tem uma
triste tonalidade rubra... mistura de água com o sangue derramado dos
combatentes.
Olhamos em direção à cidade... só há destruição!
Arvores destroçadas, paredes arrancadas; carcaças de automóveis
calcinadas por napalm... mais adiante uma chusma de corpos de jovens
soldados, árabes e israelitas; tombados lado a lado...
... antes eram inimigos... agora jazem em paz....
... foram unidos pelo destino comum; selado pelo implacável anjo da
morte....
Calor deveras sufocante; o que foi feito daquela brisa refrescante?
Hoje o vento nos traz lufadas de ar fétido, exalado por corpos
insepultos.
O vento traz também, nuvens de enormes moscas negras; sentimos seu peso,
quando pousam em nossos ombros e braços.
Tudo mudou na Faixa de Gaza:
Ontem o padeiro, o leiteiro... e o jornaleiro, entregavam suas preciosas
encomendas; hoje entregam munição para metralhadoras, e alimentam as
bocas esfomeadas dos morteiros.
Ontem o agricultor semeava a terra, para futura colheita;
hoje virou coveiro: sua pá cava o chão e abre novas covas...
As flores morreram; ao jardineiro Mohamed, coube-lhe a dura missão de
cobrir com terra estas mesmas covas... agora abarrotadas.
Um uivo lamentoso à distancia; será algum cãozinho abandonado?
Sentimos um nó na garganta, por não poder fazer nada por ele; nem por
seu possível dono.
Tampouco podemos fazer algo pela paz: o Estandarte Azul da ONU, há muito
foi arriado... aqui, a paz vale menos do que uma piastra....
A única lembrança da Paz é nossa... honrada Boina Azul!
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Rio de
Janeiro, 05 de junho de 2004.
37° Aniversário da Guerra dos Seis Dias
Edison Iabel
Soldado Interprete do 20º Contingente, 1967.
De:
"Theodoro da Silva Junior" <theojr@terra.com.br>
Data: Sun, 24 Jun 2007 22:41:16 -0200
Assunto: Um Triste Poema de Guerra - Edison Iabel
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