Um Passeio em Gaza

por  Elio Catto


Encontro Inesperado com Fedayins na Faixa de Gaza

FAIXA DE GAZA - 1961 - Passamos o dia na cidade de Gaza (cidade onde morreu o bíblico SANSÃO, que lutou contra os filisteus e destruiu o Templo de Dagon) tomando cervejas Stella e comendo batatas fritas com ovos fritos mal passados. Também visitamos o estúdio fotográfico do "hespanhol", um fotógrafo simpático e muito atencioso e que fez oraticamente todas as fotos de lembranças dos brasileiros que participaram da missão de paz no Oriente médio. Além das fotos, o hespanhol oferecia um cafezinho árabe, aquele cafá que não é coado, mistura-se pó e uma pastilha de açúcar na água fervente, e aguarde-se até que o pó se assente, dai ingere-se a bebida. Muito bom!

Fim do dia, procuramos por um taxi e o fretamos, por um valor combinado, para nos levar de volta até nosso acampamento de fronteira, dentro da Faixa de Gaza.

A viagem transcorria bem, um motorista atencioso por uma estrada asfaltada, estrita e com acostamentos de piso batido, desviando ou diminuindo a velocidade para transpor os buracos no asfalto, não sei se por falta de conservação ou destruída por bombardeios das forças israelenses durante a guerra de ocupação Palestina. Passamos por Kan-Younis, um dos povoados entre Gaza e Rafah, já era noite.

Kan-Yunis - Faixa de Gaza - 1961

Uns 10 quilômetros além de Kan-Younls, deixamos o asfalto e adentramos uma estrada de chão batido, e não muito distante do nosso acampamento, na escuridão da noite, fomos surpreendidos por um grupo de 3 "FEDAYINs (Militantes da Guerrilha Palestina contra A Ocupação Israelense) armados até os dentes, portando metralhadoras e muita munição pendurada nos ombros. Bloquearam a passagem de nosso veículo. O taxista desceu, apresentou-se e começou a discutir com os militantes. Falando árabe, eles discutiam, e muito. Parecia que ali ia ter o início da 3a. guerra mundial.

E nós, passageiros, ainda mais ou menos embriagados, víamos aquela discussão temendo pelo pior, sem saber se seríamos executados ali mesmo, sem chance de defesa. Aguardamos o desfecho, em silêncio, deixando que o taxista resolver da melhor maneira aquela "situação" com os Fedayins, muito agressivos. Após aquela discussão toda, finalmente os Fedayins resolveram liberar passagem (o taxista certamente deu uma propina aos militantes, pois se acalmaram. O motorista voltou e assumiu a direção do veículo. Passamos sob os olhares dos militantes. O veículo tomou velocidade, nos distanciando do perigo. Então começamos a cantar e confraternizar entre nós soldados e o taxista, por termos saído com vida. E não muito longe dalí chegamos ao nosso destino: O Pc da 9a. Cia do Batalhão Suez. Não foi desta vez que deixamos o couro no deserto.


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