Israel, Árabes, novidades, história,
(i)legitimidade, vinganças...
Texto de Santos R. Queiroz
Anda agora de novo nas bocas do mundo o caso de Israel, da sua iminente ocupação do Líbano, da sua destruição e ocupação da Palestina. Do que se vai sabendo, já pouco se pode acrescentar, a não ser a penosa menção a todos os feridos, mortos, deserdados que a guerra vai fazendo. Só se pode dizer destes acontecimentos que. já não são novidade. Acontecem há anos, mais concretamente desde o estabelecimento definitivo do até aí apenas idealizado estado de Israel no território colonial inglês da Palestina. Não foi imediata, esta escolha, até porque o Reino Unido, por essa altura, recentemente vencedor da II Guerra Mundial, ainda com o seu Império de certa forma mantido (nunca chegaram bem a perdê-lo, até, que mais não seja, através da Commonwealth), não aceitou logo de imediato que um território que historicamente sempre tentara conquistar (lembremos as cruzadas, em que tantos britânicos participaram para libertar a Terra Santa) lhe fosse assim retirado, ainda por cima para ser entregue a crentes noutra fé. Chegou a ser mencionada, pelos EUA, a ocupação dos Açores para que ali se estabelecesse o estado judaico. Salazar, na altura responsável também pela pasta dos Negócios Estrangeiros, respondeu-lhes, no verso da própria carta que lhe fora enviada, com um simples não.
Não se discutiria mais a questão. Afinal, Portugal não
pertencera nunca ao Eixo, fora neutral, era um estado soberano, por sinal,
membro da NATO e do Conselho de Segurança da ONU, e era o legítimo detentor
daquela região. Os próprios Judeus prefeririam, também, a sua terra "natal".
Não havia legitimidade para a posse de uma região do mundo por parte de um povo
que sempre se espalhara por todos os países e que se considerava a si próprio
especial, o escolhido por Deus. Não havia legitimidade para que se afastassem
famílias que havia milênios trabalhavam as suas terras para lá instalar
estrangeiros cujo único objectivo era terem um país, sendo que isso não era
fundamental para as suas condições de vida. Era, isso sim, uma teimosia chamada
sionismo. E eles lá conseguiram o que quiseram, de certa forma aproveitando-se
dos familiares e amigos mortos em sítios como Birkenau ou Auschwitz como
chantagem para conseguirem dos Aliados o objectivo daquela velha teimosia.
Nascia, portanto, Israel no sítio onde Jesus pregara e fora crucificado, que
fora conquistado por quem agora lá vivia (Árabes e Britânicos). Bem, partindo do
princípio que se iriam comportar dignamente, conviver pacificamente com os
vizinhos e com os antigos proprietários, o negócio estava até muito bem fechado.
Todos beneficiariam, de uma maneira ou doutra, e lá se daria um país a quem o
queria.
E assim foi. Mas, na altura, havia uma conjuntura regional muito atípica. Israel
acaba de se instalar, os grandes donos do mundo são URSS e EUA, que lutam na
Guerra Fria por áreas de influência e um antigo império, já
desgastado, continua a dar cartas em todo o Médio Oriente (falo, é claro, do
Império Britânico). ah, e é claro, já falei do Reino Unido, dos Aliados, dos
EUA, do Médio Oriente. ainda falta a França, que é também um império agonizante,
mas que continua a ser uma das potências mundiais. Acontece que, foi naquela
época que se construiu o mastodôntico canal de ligação entre os mares
Mediterrâneo e Vermelho, o Canal de Suez. Quem controlasse este canal tinha
receitas astronômicas, por controlar, com ele, uma das maiores e mais ricas
rotas comerciais do Mundo. Acontece que quem controlava aquela ligação era o
dueto franco - britânico e não o país a que de facto pertencia, o Egipto. O
mesmo Egipto árabe que comprara armas à URSS. Bem, os Aliados
retaliaram a compra com a suspensão da ajuda econômica ao Egipto. Gamal Nasser,
primeiro-ministro egípcio, toma uma das mais polemica decisões da sua carreira:
nacionaliza o Suez. O povo aplaudiu, o mundo espantou-se e em pouco tempo,
tropas inglesas, francesas, americanas e egípcias rondavam o canal. Situação
caricata:
1.. O Egipto não era comunista nem tencionava sê-lo. Comprara as armas por
conveniência econômica.
2.. A França e o Reino Unido queriam o retorno dos lucros da Companhia do Suez,
e, já agora, o controlo do Egipto, ex-colonia muito apetecida, mas queriam
evitar uma guerra contra Moscovo e, acima de tudo, fazê-la sem o apoio
internacional, leia-se, dos EUA.
3.. Eisenhower, presidente dos EUA, tentava controlar França e Reino Unido,
evitando uma concretização precoce das ameaças mútuas com a URSS, no âmbito
guerra-friesco.
4.. Gamal Nasser aproveitava-se da confusão para tentar unir o povo árabe,
conseguindo uma melhoria da situação do Egipto e, até, uma melhoria econômica e
militar que pudesse permitir a aniquilação do incomodo invasor israelita.
5.. Israel continuava apoiado pelos Aliados e queria sair a lucrar com a
questão. Conseqüência previsível: a chamada Guerra dos Seis Dias. Israel,
instigado pela França e pelo Reino Unido poria fim ao Egipto Nasseriano,
lucraria com os territórios ocupados e as antigas potências coloniais
recuperavam os lucros do Suez. O deserto do Sinai é invadido. A França e o Reino
Unido enviam pára-quedistas e todas as forças que pudessem mobilizar para a
região. A URSS, para evitar que as atenções se voltem a virar para a sua
repressão dos movimentos de libertação na Hungria, entra na disputa, ameaçando
comum ataque nuclear a Paris e Londres. Entretanto, os EUA, temendo a chegada da
III Guerra Mundial, aprovam na ONU uma decisão de
cessar-fogo imediato, e enviam para a região a Unef, força de pacificação da
ONU. Israel volta atrás com a sua ocupação, França e Reino Unido desistem das
suas tentativas de recuperar o Suez.
Tudo acabou bem (ou quase) mas um mal foi começado: o ódio árabe-israelita, que,
a partir daí perderia os contornos racionais que o definiram e passaram a ser
uma questão de vinganças e retaliações. Com isto, fica dito o essencial. Foi a
desonestidade de dois Aliados que incendiou o rastilho homicida das guerras
entre judeus e muçulmanos. Tem sido a falta de compreensão internacional e
padrões valorativos restritos dos Árabes e o interesse ganancioso, maléfico e
desnecessário do povo israelita em fazer crescer o seu país que têm alimentado
esta guerra de contornos infindáveis. Este episódio de ocupação e destruição do
Líbano, tão inocente na questão como a proporção do seu exército frente ao
israelita, tem tanto de novo como a guerra: nada. A legitimidade de combaterem o
Hezbolá já é tanta como a deste de combater Israel. Israel instalou-se numa
terra que não era sua, por doação a fundo perdido duma potência colonial
desonesta. Ao "pagar o favor", só fez da sua causa, da sua guerra e do
sofrimento do seu povo e do Árabe uma nódoa, uma verdadeira vergonha no mundo
relativamente pacífico em que vivemos. A minha opinião sincera: não podemos
evoluir mentalmente o povo Árabe sem que ele esteja preparado. Mais: só podemos
fazê-lo se tivermos razão. Como explicá-lo a um povo que, com o passar das
décadas é invadido, vê os pertences arrasados, os filhos mortos, um mar de
tristeza por destino? Os Israelitas têm direito ao seu país. Mas têm o direito e
o dever de serem pacíficos. E fico revoltado quando vejo a vitimização de que se
servem para defenderem a sua causa. Como é que um país que mata milhares de
crianças e outros inocentes com a "desculpa" do rapto de um soldado pode ser
vítima? É um predador, isso sim. E os EUA, que só param as guerras quando
presentem bombas nucleares a caminho, deviam também ter vergonha de se arrogarem
os polícias do mundo.
Só Deus sabe quando se voltará a ouvir a palavra da Justiça na Terra Santa.
Escreveu Santos R. Queiroz
De: Theodoro da Silva Junior <theojr@terra.com.br>
Data: 15/11/2006 (21:27:43)
Assunto: Israel, Árabes, novidades, história, (i)legitimidade, vinganças...