17º Contingente - Sd.Edson Dantas
Maria Eduarda Parahyba - Do
Portal
18/04/2008 A+ a-
Histórias de um ex-combatente
temperam a hora do almoço
"Eu vi aqueles pracinhas voltando com suas boinas azuis para as famílias, todo mundo fazendo festa, e decidi que queria ser igual a eles".
Foi assim que Edson Dantas resolveu que queria servir no Batalhão Suez (BS), uma unidade das Forças Emergenciais da Organização das Nações Unidas (ONU).
De olho no BS, entrou para o Exército e, em 1965, alistou-se numa missão de paz na Faixa de Gaza. As histórias no Oriente Médio e outros casos do ex-combatente apimentam a rotina entre talheres e pratos.
Aos 63 anos, o auxiliar de
cozinha do restaurante Couve-Flor, na PUC-Rio, faz das lembranças um tempero
irresistível.
- Minha função em Gaza era vigiar a fronteira, de uma torre de sete metros.
Não houve conflito, mas o risco era constante. Apesar da rotina cansativa e
arriscada, a convivência com os outros soldados era tranqüila.
Aos domingos, íamos a
bares escutar música. Música em Gaza. A lembrança do impossível é uma deixa
para Edson dar uma canja de "Zigue-Zague", sucesso de Jair Rodrigues. Na voz
de Edson, a canção virava peça diplomática: embalava a confraternização com
oficiais de outros países.
Nas missões do Batalhão de Suez, conheceu lugares como Alexandria, Mar
Vermelho, Ruínas de Jericó. Em Jerusalém, entoou a "Ave Maria" para 40
monges franciscanos.
O eclético ex-combatente também é fotógrafo. Aproveita o hobby para
ganhar um dinheiro extra, em formaturas, casamentos, festas de debutantes.
Eterno romântico, dispensa
tecnologias digitais e prefere fotos em preto e branco.
Ele ainda recita poesias e mantém o gogó em dia com um repertório
variado. Vai de Ave Maria a Frank Sinatra, passando por Roberto Carlos,
Elvis e Carlos Alberto, o rei do bolero. O difícil é fazê-lo parar de cantar
- pela admiração de quem ouve e pela empolgação de quem tem a música no
sangue. É bom ouvir aquele vozeirão de Vicente Celestino.
Depois de 12 anos na fábrica da Chevrolet, o soldado, cantor,
operário, poeta e fotógrafo veio trabalhar no Couve-Flor da PUC-Rio.
Tecnicamente, sua função é a reposição dos pratos e dos talheres. Na
prática, empresta a alma de poeta para dar mais sabor à hora do almoço. "O
restaurante é como um teatro", compara. Para Edson, a vida é um teatro. Para
os aniversariantes, ele escreve mensagens, uma espécie de perfil
psicológico.
- Escrevo pouquinho mas eles gostam - conta. - Eles (os estudantes) são a
minha inspiração.
de Theodoro da Silva Junior <theojr@terra.com.br>
data 25/05/2008 09:25
assunto HISTÓRIA DE UM EX INTEGRANTE DO BTL.SUEZ