FEB - 21 de fevereiro
21 de fevereiro? (2006)
Israel Blajberg (*)
O que acontece de importante em fevereiro? Carnaval? Provavelmente poucos se lembrariam do "21 de fevereiro de 1945"... Manhã cinzenta quando após três tentativas os pracinhas brasileiros acostumados com o sol dos trópicos finalmente conseguiram em meio a tempestades de neve tomar o Monte Castelo.
Embora as novas gerações mal o conheçam, um dos momentos marcantes da
História contemporânea do Brasil foi este episódio heróico da II Guerra
Mundial. Tomando de assalto esta posição fortificada dos nazistas, a FEB -
FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA contribuiu significativamente para a Vitória Aliada na Itália.
O clima patriótico e nacionalista daquele distante 1945 despertou motivação e confiança nas potencialidades dos brasileiros. Não deveria estar "fora de moda" neste 61º. Aniversário.
Foi uma vitória da cidadania brasileira, a resposta ao mito da raça superior dada firmemente pelos nossos pracinhas de diversas origens, que ajudaram a derrotar o nazismo na Europa conflagrada. As pseudoteorias raciais de Goebbels et caterva ruíam diante das fileiras de prisioneiros louros arianos escoltados pelos nossos patrícios de todos os matizes formadores da nacionalidade: o índio, o português e o negro...
Mas por que lembrar tudo isso? Afinal os alemães já não são mais inimigos,
até houve tempo em que quase todos os carros nas ruas brasileiras eram VW,
o carro que deveria estar nas garagens de cada família alemã... Concebido
pela mesma tecnologia que criou o gás Zyklon B.
As razões para sempre recordar e recordar são básicas. Não se pode
esquecer a história. Por que, já dizia Balzac, a História é como um bobo: Se
repete, se repete, se repete.
É incrível, mas agora mesmo em nossos dias outros bárbaros ousam
escarnecer da Humanidade, negando cinicamente o Holocausto cometido pela Alemanha
Nazista.
Para essa gente e seus seguidores também não interessa relembrar a Forca
Expedicionária Brasileira. Os novos nazistas não somente negam o
Holocausto, como discriminam negros, nordestinos e outras minorias...
Por isso mesmo, todos nós brasileiros, sejamos civis ou militares, temos o
dever de não deixar as datas marcantes da Pátria caírem no esquecimento.
Por que Monte Castelo não foi apenas uma vitória militar, e sim de toda a
Nação Brasileira.
A cada Solenidade, mais uma vez os últimos ex-combatentes se perfilam
diante do singelo Monumento aos Mortos da II Guerra Mundial, no Aterro do
Flamengo.
Aos poucos vão chegando, alguns vagarosamente, curvados pelo peso dos
anos, com suas boinas e braçadeiras, cabelos brancos, vêm prestar a homenagem
aos companheiros que não voltaram. Com orgulho, levantarão ao vento os antigos
estandartes.
As pessoas passando nos ônibus, apressadas para o trabalho, certamente não
entendem de imediato o porquê daquele ato solene. Nos últimos anos, o povo
já não mais comparece em massa. Apenas militares, veteranos, familiares e
a tropa formada, número este que aumenta se a solenidade ocorre num domingo.
E pensar que um dia a cidade parou para receber os nossos expedicionários
na Avenida Rio Branco...
Temos que admitir que a maioria de nós, brasileiros, esquecemos muito
facilmente a nossa rica história. Poucos se lembram sequer de homenagear
Presidentes da República falecidos há poucos anos. O que dizer da tomada
de Monte Castelo, já lá se vão 6 décadas.
Definitivamente não cultivamos hábitos anglo-saxões de desfraldar
bandeiras e comemorar vitórias nas datas nacionais. Muito menos fazer seguro,
sob o pretexto de que dá azar...
Mas ainda que Fevereiro seja o mês do carnaval, é preciso não esquecer a
luta a que fomos levados pelo torpedeamento de dezenas de navios
mercantes, com perda de centenas de vidas preciosas brasileiras.
"...os aviões chegaram sobre o U-199 ao largo da costa fluminense com 10
min de diferença. As 08:50 o Hudson acertou 2 bombas e metralhou os canhões
antiaéreos do submarino. As 09:00 o Catalina efetuou 2 ataques. Após o
sobrevôo a tripulação abandonou a embarcação. As 09:02 o submarino levantou
a proa e afundou rapidamente. Ao avistar sobreviventes nadando, o Catalina
lançou botes de borracha... O dia 31 de julho de 1943 entraria para a
historia da FAB..." (Historia da FAB, Brig. Lavanere-Wanderley).
O brasileiro é um povo lúdico, alegre, musical, suporta estoicamente
situações precárias. A nossa gente às vezes sofre mais por um time ou
escola de samba do que pelas adversidades do dia-a-dia. Um país abençoado,
onde felizmente a união popular não decorre de guerras, mas dos jogos da
seleção.
O próprio Pero Vaz de Caminha logo notara as características peculiares
dos que aqui habitavam, quando em famosa carta revelou a El Rei D.Manuel:
"... As gentes daqui são rijas e bem feitas de corpo,... Acercam-se de nós
curiosos... Parecem gostar mais de nós do que nós deles... ".
De repente, 2 caças F-5 da FAB cortaram os céus a baixa altura, dando um
último adeus aos que não voltaram. Na fuselagem pintada de verde escuro
ostentam o símbolo do 1º Grupo de Caça, o Senta à Pua que combateu nos
céus da Itália.
As pessoas se assustam com o estampido sônico. Apenas alguns, mais rápidos,
ainda conseguirão divisar ao longe os jatos ligeiros retornando para a
Base Aérea de Santa Cruz.
A cerimônia termina. Os pracinhas voltam para casa conformados, quase
esquecidos. Mas não desanimarão. No próximo ano estarão novamente no
Monumento. Enquanto viverem, prestarão sempre a sua homenagem.
A memória dos feitos da FEB na Itália é uma das glórias da Cidadania
Brasileira, digno de destaque no estudo da Historia do Brasil em escolas
de todos os graus.
Construir um Brasil grande passa por reverenciar nossa História de lutas.
Lembrar o 21 de fevereiro é dever de todos os brasileiros, e não apenas
daqueles que voltaram.
(*)
iblaj@telecom.uff.br